terça-feira, 22 de março de 2016

Poesia em suspensão



Pousei o café e observei o vapor subindo desforme
E decidi, então, que essas palavras não mereciam rima
Não que me faltasse o tempo (e a aspirina)
Já que a tarde clara, brilhante,
Lembrava-me com convites a todo instante
Como poderia ser
Mas ao ver o sol batendo no cimento
Cozinhando lentamente o dia inteiro
Negava educadamente me mexer

(Suspiro)

Num misto perfeito de tédio e esperança
No peito um vazio sem confiança
Nas pernas um formigamento
E nos olhos um peso sonolento

Fiquei assim me vendo
Como um grão à mercê do vento
De mil oportunidades ignoradas
Rendido a inércia do não querer

E ali fiquei com caneca em mãos, esperando
(O que ? O que ? Não sei. Nem sei também)
Vendo o povo passar num vai e volta sem sentido
Pessoas passando
Ideias passando
Carros passando
Pássaros passando
As horas passando
E eu ali
E eu ficando
E eu alheio
E eu..

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