quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

John - Capitulo primeiro


   Uma ambulância passou nas ruas, distante do vigésimo segundo andar e sua sirene ecoou na imensidão noturna.  Lá estava John, no seu novo apartamento, ainda sem mobília. Ele fitava a noite com o copo de whisky importado pela metade pendendo entre seus dedos e na outra mão, um cigarro aceso. Seus olhos, antes azul intensos, agora estavam vazios. Ele estava ali, porem sua mente estava longe, vagando entre o vazio e as lembranças dolorosas, tão recentes.
   De solavanco retornou a realidade, seu celular tocava, jogado no chão do apartamento. Virou-se para encarar o apartamento vazio. A luz pálida da lua entrava por cima dos prédios e tornava a parede mais banca ainda, dando um tom fantasmagórico no espaço vazio. “Deve ser um engano”, esperou e ele continuou tocando, “não estou com vontade de ouvir outros pêsames”, esses e ainda outros pensamentos passaram por sua mente e ele apenas esperou que parasse de tocar. Então o celular parou, quieto no chão.           
   John estava se virando para a janela novamente quando o celular voltou a tocar. Ele deu uma profunda e vigorosa tragada no cigarro e andou cambaleando até a parede onde o celular estava, longe da luz da lua. Encostou-se à parede e deslizou lentamente, sem tomar cuidado com seu terno caro, agora amassado, fitou o celular que voltou a tocar, e a curiosidade o venceu. Respirou fundo e pegou o celular e viu o nome de quem o ligava, era a Eve. Tirou o som do celular e o deixou de lado, ainda encostado na parede e então se serviu da ultima dose
   A lua iluminou a sala rapidamente. Os seus olhos ficaram arregalados. Deixou o cigarro aceso no chão, levantou com um pulo e foi examinar a lua. Fitou-a e ouviu ela se falando com ele. Sua voz era tão doce e carinhosa... “Não pode ser”... ”Mary?”. Um corpo de luz, translúcido, como vindo de um sonho se formou na frente dele. “É”. Mary estava realmente na frente dele, e não mais no caixão de mogno que ele a deixara na semana anterior, sete palmos abaixo da terra. Seus olhos ainda estavam arregalados, sua voz era incrédula e seu cabelo despenteado e mal cuidado.
   Soltou por reflexo o copo, que se espatifou no chão e foi rapidamente em direção a ela, com passos bêbados. Quando encontrou o vitral separando ele de sua amada, abriu-o violentamente, tudo para chegar até Mary o mais rápido possível.
   Tateou o ar frio da noite como uma criança para tocar nela. Foi até a cerca da sacada e se esticou até mais do que podia para poder tocá-la. Então percebeu que ela era irreal, uma miragem. Seus sapatos pretos, ainda lustrados, escorregaram na varanda e...

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